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Por Elsa Oliveira

Essa semana o Brasil “ficou chocado” com o caso da moça que foi deixada em uma calçada de BH, desacordada, por um motorista de aplicativo e, na sequência, foi carregada até um campo de futebol próximo para ser estuprada. O sujeito que a carregou andou por 3 km para cometer essa atrocidade, com ela nos ombros.

A “revolta” envolvia e distribuía culpa pra todo mundo: pro motorista do aplicativo – que de fato tem culpa também; proestuprador que, obviamente, tem culpa, e, pasmem, sobrou até pra vítima, a única nesse trio a quem o crime não pode ser atribuído.

Ah, mas não devia ter bebido!

Ah, mas não devia ter saído de casa sozinha!

Ah, mas não devia estar na balada até de madrugada!

Caros, mulheres têm o direito a tudo isso e a muito mais. Deveríamos poder sair sozinhas; beber se, quando e quanto quisermos; com a roupa que quisermos, e ter a certeza de que chegaríamos em casa – sóbrias ou não, em segurança. Simplesmente porque os corpos são nossos e deveriam ser invioláveis.

Mas não é o que acontece. E não é o que acontece só na balada. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada sete minutos. Só em 2022, de acordo com o Fórum de Segurança Pública, foram 75 mil registros de crimes sexuais, o que representa menos de 10% do total de vítimas já que a maior parte delas não denuncia ou não tem a cena registrada por câmeras como foi o caso da moça de BH. Pelos dados oficiais, seis de cada dez vítimas têm menos de 13 anos e 68% delas foram violentadas dentro de sua própria casa. Em fevereiro deste ano, uma recém-nascida de apenas 27 dias morreu após ser estuprada pelo próprio pai, no Rio de Janeiro. Um laudo do Instituto Médico-Legal confirmou o crime.

O estuprador não está só na rua, de madrugada, esperando alguma jovem ser “desovada” na calçada de presente pra ele. O estuprador está entre nós, no transporte coletivo, dentro das nossas casas, nos nossos ciclos sociais e na cabeça de homens e mulheres que ainda insistem que a culpa é da vítima. Qual a culpa da bebê que teve seu frágil corpinho lacerado pelo próprio pai? Ter nascido?

É estarrecedor, mas esse domínio masculino é socialmente aceito, e isso fica claro quando lemos comentários nas redes sociais julgando a vítima. Em vários casos o estupro não tem a ver com a vontade física incontrolável – o que não diminuiria o crime – mas sim com a relação de poder que homens acham que têm sobre corpos e mentes de mulheres, e que é perpetuada nos discursos – masculinos e femininos – que defendem que alguns papéis, lugares e costumes, só podem ser atribuídos aos homens.

Estão, na verdade, propagando o ódio e a violência contra as mulheres. Nesse contexto, não dá pra culpar só o estuprador. Esse crime é culpa de todos nós enquanto sociedade ainda machista e misógina na qual estamos inseridos. Para mudarmos as leis, precisamos, primeiro, mudarmos as mentes! A culpa nunca é da vítima!!!

A postagem Só pra lembrar: a culpa nunca é da vítima! apareceu primeiro em Jornal Digital da Região Oeste.

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